O que já fez por si hoje?


Ao enveredarmos por um caminho espiritual, e em particular por alguma religião, somos frequentemente encaminhados a uma forma de ser altruísta. Pensar nos outros, praticar o bem comum, a caridade, a amizade e por aí adiante.

Virtude moral elevada, o altruísmo ajuda-nos também enquanto indivíduos não só pelo desapego face ao material, como também, na sua relação com a lei de causa e efeito, ao recebermos de volta aquilo que damos. E ninguém pode negar que, ao dar um sorriso, o que recebe é um sorriso talvez ainda maior! Excepções à parte, este simples gesto demonstra bem a eficácia de tal lei. Experimente-se com um bebé, por exemplo!

Não raro a nossa preocupação em nos tornarmos altruístas faz com que esqueçamos a nossa própria pessoa. Erro crasso. Pergunto eu, como poderemos ajudar alguém se nós próprios não estivermos bem? Pode o mais pobre ser humano alimentar outra pessoa, não tendo para si o que comer?
Sermos altruístas não tem que significar literalmente o oposto de egoístas. No dicionário pode sê-lo, sim. Na prática não deve.

Só quando estamos bem podemos ajudar os outros a ficar bem também. Por isso devemos ser egoístas o suficiente para nos melhorarmos a nós e às nossas condições. Assim, sim, poderemos ajudar a melhorar a vida daqueles que nos rodeiam.
No fundo devemos procurar o equilíbrio. Não olhar somente para nós, mas também não nos focarmos exclusivamente nos outros.

amizade

Um homem tem algumas árvores de fruta no seu quintal e precisa de colhê-las. Não consegue sozinho, precisa da ajuda de pelo menos mais uma pessoa. Como é altruísta pensa em chamar o pobre mais pobre que conhece oferecendo-lhe em troca alguma fruta. Como é suficientemente egoísta, o que lhe dá representa uma mísera parte daquilo que vai colher. Como é suficientemente altruísta, o que lhe dá representa mais do que o valor que teria de pagar pelo trabalho realizado.
O pobre mais pobre, sendo suficientemente egoísta, aceita, pois terá o que comer durante um ou dois dias. Sendo suficientemente altruísta, oferece depois uma peça de fruta ao seu amigo não tão pobre mas que também não tinha o que comer. Sendo suficientemente egoísta, guarda uma parte do que recebeu para mais tarde, quando a fome voltar a apertar. Como é suficientemente altruísta, sentindo-se com mais força por estar melhor alimentado ajuda o outro homem pobre a fazer um trabalho pesado que surgiu.

A história poderia continuar por aí fora. No fundo este é um ciclo vicioso. E uma atitude correcta. Ambos os homens equilibram a sua atitude e conseguem assim melhorar a sua vida e a de outros.
Se o homem pobre não fosse suficientemente egoísta, não teria aceite o trabalho. Diria que viesse outra pessoa qualquer que precisasse do trabalho. Não ficaria melhor e não teria como ajudar o outro homem pobre.

Quando nos ajudamos a nós mesmos criamos condições não somente para nós, mas também para ajudar os outros. Por isso temos, sim, que pensar em nós. Temos, sim, que viver com alguma dose de egoísmo. Apenas devemos é ter atenção e sermos moderados. Não evoluímos a pensar exclusivamente no bem alheio. Temos que pensar em nós.
E por isso pergunto,
O que é que já fez por si hoje?


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