Ao enveredarmos por um caminho espiritual, e em particular
por alguma religião, somos frequentemente encaminhados a uma forma de ser
altruísta. Pensar nos outros, praticar o bem comum, a caridade, a amizade e por
aí adiante.
Virtude moral elevada, o altruísmo ajuda-nos também enquanto
indivíduos não só pelo desapego face ao material, como também, na sua relação
com a lei de causa e efeito, ao recebermos de volta aquilo que damos. E ninguém
pode negar que, ao dar um sorriso, o que recebe é um sorriso talvez ainda
maior! Excepções à parte, este simples gesto demonstra bem a eficácia de tal
lei. Experimente-se com um bebé, por exemplo!
Não raro a nossa preocupação em nos tornarmos altruístas faz
com que esqueçamos a nossa própria pessoa. Erro crasso. Pergunto eu, como
poderemos ajudar alguém se nós próprios não estivermos bem? Pode o mais pobre
ser humano alimentar outra pessoa, não tendo para si o que comer?
Sermos altruístas não tem que significar literalmente o
oposto de egoístas. No dicionário pode sê-lo, sim. Na prática não deve.
Só quando estamos bem podemos ajudar os outros a ficar bem
também. Por isso devemos ser egoístas o suficiente para nos melhorarmos a nós e
às nossas condições. Assim, sim, poderemos ajudar a melhorar a vida daqueles
que nos rodeiam.
No fundo devemos procurar o equilíbrio. Não olhar somente
para nós, mas também não nos focarmos exclusivamente nos outros.
Um homem tem algumas árvores de fruta no seu quintal e
precisa de colhê-las. Não consegue sozinho, precisa da ajuda de pelo menos mais
uma pessoa. Como é altruísta pensa em chamar o pobre mais pobre que conhece
oferecendo-lhe em troca alguma fruta. Como é suficientemente egoísta, o que lhe
dá representa uma mísera parte daquilo que vai colher. Como é suficientemente
altruísta, o que lhe dá representa mais do que o valor que teria de pagar pelo
trabalho realizado.
O pobre mais pobre, sendo suficientemente egoísta, aceita,
pois terá o que comer durante um ou dois dias. Sendo suficientemente altruísta,
oferece depois uma peça de fruta ao seu amigo não tão pobre mas que também não
tinha o que comer. Sendo suficientemente egoísta, guarda uma parte do que
recebeu para mais tarde, quando a fome voltar a apertar. Como é suficientemente
altruísta, sentindo-se com mais força por estar melhor alimentado ajuda o outro
homem pobre a fazer um trabalho pesado que surgiu.
A história poderia continuar por aí fora. No fundo este é um
ciclo vicioso. E uma atitude correcta. Ambos os homens equilibram a sua atitude
e conseguem assim melhorar a sua vida e a de outros.
Se o homem pobre não fosse suficientemente egoísta, não
teria aceite o trabalho. Diria que viesse outra pessoa qualquer que precisasse
do trabalho. Não ficaria melhor e não teria como ajudar o outro homem pobre.
Quando nos ajudamos a nós mesmos criamos condições não
somente para nós, mas também para ajudar os outros. Por isso temos, sim, que
pensar em nós. Temos ,
sim, que viver com alguma dose de egoísmo. Apenas devemos é ter atenção e
sermos moderados. Não evoluímos a pensar exclusivamente no bem alheio. Temos
que pensar em nós.
E por isso pergunto,
O que é que
já fez por si hoje?
Sem comentários:
Enviar um comentário