Gratidão


Pare um pouco e reflita... - Sente-se grato pelo que tem? Ou só pensa no que lhe falta?

Julgo que uma parte importante da evolução passa por reconhecermos todo o apoio que vamos tendo ao longo do percurso. E não me refiro aqui somente ao apoio divino ou de qualquer entidade espiritual. Também o apoio que damos uns aos outros enquanto seres sociais que somos.

Não vivemos a vida sozinhos e sempre precisamos uns dos outros. Precisamos que alguém cultive a terra e cuide dos animais para termos o que comer. Precisamos que alguém trate os alimentos, que alguém os leve aos mercados para podermos comprá-los. Precisamos que alguém fabrique os utensílios para cozinhá-los. E podia continuar esta extensa lista…

Ah, mas tudo isso eu pago para ter!
É verdade. Mas então precisa de alguém para lhe dar um emprego para ter dinheiro e poder pagar por tudo isso.

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Ah, mas eu sou o meu próprio patrão, tudo depende de mim!
Muito bem, mas então se fornece um serviço, precisa de quem o utilize; se vende um bem precisa de quem o compre; tenho de continuar?

É um ciclo vicioso. Sempre precisamos uns dos outros, nomeadamente para o mais básico. Como precisamos dos pais quando nascemos; como precisamos dos filhos quando estamos perto da morte. 

E muito raramente o agradecemos.

Quantas vezes se sentiu grato por estar onde está e por aquilo que tem? 
E se isso depende mais de si do que dos outros, quantas vezes agradeceu pela influência que pais, avós, tios, amigos e tantos outros tiveram na sua vida a ponto de o ajudarem a tornar-se em quem se tornou? 
Até mesmo os que influenciam pela negativa têm o seu papel, nem por isso menos importante. Como saberemos o que custa ser-nos tirado algo precioso se não houver quem no-lo tire?

É óbvio que não estou a querer dizer que agora deva sair à rua e começar a agradecer a todos por existirem. Mas sentir-se grato por haver tantos à sua volta a contribuir para o seu bem-estar não envergonha, não paga imposto e, sobretudo, não dói. Dói é viver como tantos vivem com a sensação de que “todos lhe devem e ninguém lhe paga”.

Como se sentiria se visse alguém deixar a carteira cair ao chão, a fosse apanhar e correr atrás dessa pessoa para a devolver e a pessoa nem sequer agradecesse?


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