Seremos nós tão tolerantes quanto pensamos? Até que ponto
vai a nossa tolerância? É ela sincera?
Estas questões surgiram-me após assistir a uma série de
debates onde, ainda que não fosse esse o intuito, a conversa rapidamente
evoluiu para a discussão sobre crenças. A meu ver estes são dos debates mais
complicados, até porque as razões que levam as pessoas a ter determinada crença
ao invés de outra são normalmente do foro íntimo, privado, logo há sempre uma
parte que não é discutida. As pessoas só se expõe até dado limite.
Ora os debates a que assisti foram, na sua maior parte,
tidos entre pessoas que se diziam tolerantes. Era comum sobre um assunto dar-se
uma explicação por exemplo de acordo com o catolicismo e logo a seguir outra
pessoa questionar o porquê das explicações terem de ser todas dadas pelo
catolicismo. Daí para começarem a discutir o sexo dos anjos (ou, no caso, o
sexo de Deus) era um instante.
Ao especificar um pouco mais os motivos de ser dada esta ou
aquela resposta, que nada mais tinha que ver com a crença pessoal de cada
interveniente, logo as partes distintas se começavam a sentir atacadas. Sentiam
que uns e outros lhes queriam impingir as suas próprias crenças e reagiam como
se não estivessem os outros no direito de defender as suas convicções. Ou seja,
acabava-se aí a tolerância.
Discussões simples passavam a discussões bem acesas onde por
vezes chegava a haver até troca de insultos. E comummente era acusado de
ignorante aquele que apenas tinha uma opinião diferente.
Pergunto-me então, e face a tais atitudes, afinal, uma
pessoa que reage assim num mero debate de ideias é uma pessoa realmente
tolerante? Dizer que se aceita e respeita a opinião alheia só é válido enquanto
essa opinião não é contrária à nossa?
Não me parece…
Infelizmente nas últimas semanas deparei-me com bastantes
casos destes, o que me entristeceu. Julgava que a nossa sociedade estava mais
evoluída do que isto. Afinal, como tantas outras coisas, a tolerância religiosa
que se prega é só a das aparências, porque fica bem, porque é politicamente
correcto. É uma tolerância hipócrita, não sincera. E certamente isto não se
passa somente no que respeita à tolerância religiosa.
Concluo, infelizmente, que continuamos a ser tão retrógrados
como há 500 anos atrás. Se não formos mais!
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