Autoritarismo e Espiritualidade

A propósito de situações corriqueiras do dia-a-dia, mais precisamente do local do trabalho, debrucei-me sobre este tema. Porque julgo impressionante, em locais onde a entidade empregadora exerce a sua autoridade na base do respeito mútuo, haver terceiros que, não tendo problemas, os arranjam tentando eles próprios exercer, sempre que possível, o autoritarismo.
Portanto, e embora não estando directamente relacionado, deixo aqui um texto do blog Re-ligare  a propósito do autoritarismo e de como se relaciona com a espiritualidade. Um ponto de vista, entre tantos:


ESPIRITUALIDADE PARA O NOSSO MUNDO

No passado a espiritualidade emergia através de instituições, líderes ou cerimónias e rituais sagrados, canais tradicionais que não envolviam pessoas comuns. O decréscimo de influência dessas instâncias faz com que hoje, as forças superiores entrem na sociedade através do individuo, através de um processo de auto capacitação que propõe nova espiritualidade, enquanto expressão de individualidade.
A espiritualidade é vista como uma inteligência superior que ameaça o racionalismo e que se manifesta como resultado de um percurso do eu interior, geralmente em ambiente de sofrimento, dor, morte, descobrindo uma fonte de ajuda permanente. É como que darmo-nos conta de que nos falta algo, de que estamos incompletos, de que podemos beneficiar de um património que nos transcende. Essa experiência revela-se como capacitante inesgotável, como alegria confiante, como fonte permanente de ajuda.
Hoje as experiências espirituais surgem como resultado do fluir abundante de amor indiscritível, dinâmica de profundidade que dá sentido à existência dos acontecimentos inexplicáveis da vida. Como que se uma inteligência superior pairasse em permanência sobre a nossa ansiedade. Nesta nova dimensão espiritual deixa de ter lugar o dogmatismo e o autoritarismo das religiões e igualmente o misticismo da Nova Era, que propaguei-a a vontade pessoal como fazedor de todas as obras, pelo afastamento de todos os pensamentos negativos.
A convicção de que, o eu interior só pode evoluir se ascender às forças superiores, revela o propósito oculto de todo o sistema espiritual: criar hábitos de passar de consumidor ao criador, através da nossa vontade, respondendo como escolha ao que somos desde a origem. A espiritualidade assenta no que se faz e não no que se acha, no que se pensa, no que se segue ou decide: assenta na experiência pessoal aliada ao poder que recupera do Universo. As limitações, os sofrimentos, a dor, tudo o que te acontece, pode forçar-te na orientação de contacto com capacidades que não pensarias possuir. Aprendemos que para ter validade universal, para ser digna de aceite por todos, tem que ter dimensão científica e uma espiritualidade não tem essa dignidade. Mas o ser humano tem quando procura a totalidade e o desenvolvimento criativo proposto por Carl Gustav Jung.
Como diz Pascal: é o coração que sente Deus e não a razão. A chave está em amar activamente, permitindo que as minhas irritações se evaporem, porque me organizo em redor da confiança e tudo o resto é irrelevante. Quando experiencio a força superior na minha vida, como quando me nasce um filho, quando supero uma doença ou quando sinto perdão de alguém; mudo-me para melhor e sei que me supero, sei que a fé é confiança e que as forças superiores estão sempre presentes para me facilitar a existência. Ao ceder o meu lugar, como agente de mudança, às forças que me superam tenho um aliado todo-poderoso, que não quero mais alienar.
A dada altura damo-nos conta que nos encontramos dentro de um sistema espiritual, como um Universo profundamente solícito para cada um de nós. Na actualidade o sistema espiritual não é apenas um conceito estruturado que devo conhecer ou aderir, antes, é uma experiência pelo qual eu encontro significado positivo para toda a minha existência, seja alegre ou sofrida. Sei que a fé me é ensinada pelo maior professor de todas as nossas aprendizagens: a vida.
A nossa percepção actual está enviesada pelo precário modelo científico, onde a ciência não aceita nada que não possa ser provado de maneira lógica. Todos sabemos que as forças superiores existem num nível não sujeito ao modelo científico. Kierkegaard aludiu a este princípio, quando referiu que a vida tem as suas forças ocultas que só podem ser descobertas se vivenciadas; e a vivência é sempre uma experiência pessoal e única. É ainda a diferença entre saber alguma coisa mentalmente e vivê-la com todas as energias do seu ser.
A nova espiritualidade organiza-se em redor de experiências vivenciadas por cada um. Na nova espiritualidade, cada individuo tem de experienciar as forças superiores e tirar as suas próprias conclusões sobre a sua natureza. As figuras de autoridade externa deixam de poder definir percursos para a realidade espiritual de cada um, baseando-se na singularidade de cada ser humano, permite experimentar a natureza das forças superiores à nossa maneira.
Na realidade actual a maioria das pessoas não se encaixa propriamente numa religião contradizendo mesmo os ensinamentos da própria fé. Católicos que praticam meditação oriental; ou que participam noutros grupos religiosos; protestantes que rezam à virgem Maria; e ainda judeus budistas. Esta postura de libertinagem religiosa não está a ser posta em causa pelas religiões. Não creio que as pessoas que assumem este comportamento o façam por ignorância, mas, porque escolhem o que funciona para eles, com base nos seus instintos espirituais. Mais que uma religião hoje, busca-se uma espiritualidade e as religiões tradicionais parecem ter perdido a espiritualidade.
O facto dos problemas pessoais serem a força motriz da evolução espiritual de muitos: grande adversidade, execução hipotecária, despedimento, morte de um familiar, os indivíduos superam esse momento difícil mudando a lógica que tinham da vida. Viviam organizados em redor da mentalidade consumista: a sua vida tem sentido quando as suas necessidades estão satisfeitas; e mudam para uma mentalidade criativa: os problemas, as adversidades são um trampolim para algo de melhor que pode surgir, algo que o transcende, algo a que se abrem: uma dimensão espiritual.
Enfrentar seus próprios problemas é demasiado doloroso, por isso muitos se organizam em redor dos problemas alheios que os, média nos comunicam. Com esta atitude denunciamos, que em cada um de nós há o desejo de superar as dificuldades, tal como proclamava Freud ao introduzir a psicanálise, com terapia. Todos temos consciência da importância dos problemas na evolução pessoal e sabemos que temos mais capacidades do que as que estamos a demonstrar. Temos capacidades que estão ocultas e dispomo-nos o fazer o necessário para as desenvolver. Queremos responder aos nossos problemas como criadores e fazemos da psicoterapia do Freud ateu, um processo de crescimento espiritual.
Muitos dos nossos contemporâneos, perderam a fé no futuro; na comunidade humana, da possibilidade de fraternidade. Cada um por si, não estamos muito dispostos a assumir responsabilidades sociais, não queremos estar ligados aos outros, que sentimos como rivais. Quando o historiador Lewis Mumford fala sobre o declínio do Império Romano, deixa claro que, todos buscam segurança, mas nenhum aceita responsabilidade. A invasão bárbara traz novas perspectivas de vida, porque a vida é sempre busca de mudança e o risco é para muitos a estabilidade preferida.
O impulso interno de cada um ganha expressão no espirito da sociedade, qual força motriz que dá sentido e permite que prossiga com coragem. A grandeza da humanidade exige que passemos a dar o melhor de nós e isso só acontece em contextos exigentes. É ai, que se manifestam as forças que nos ultrapassam, forças superiores, essenciais para o bom funcionamento da sociedade. Cada um de nós convive com uma força interior de derrota, de abatimento e de incapacidade. Nos momentos de grande pressão é posto à prova num ressalto de humanidade, na força de avanço, onde só o amor tem sentido. Durante todos os ciclos da vida fazemos experiências enriquecedores na busca de soluções positivas de ajustamento, como nos propunha Erik Erikson.
Abraçar a dor da mudança, da crise ou da dificuldade; assumir um amor activo e determinado que me faça sair do labirinto que me incapacita; ter um espirito forte que não exclui o outro e o recupera para se recompor; desenvolver posturas de agradecimento, de reconhecimento da dimensão espiritual; e arriscar sempre, diante do desânimo e da desmoralização de tantos que nos cercam, permite, ser criativo e desafiar os outros a uma atitude idêntica. Fica nas suas mãos a espiritualidade para este tempo e nela a espiritualidade do novo mundo que imerge em cada um de nós.

Pina Franco, 2014

6 formas simples de prática espiritual

Esta é uma tradução parcial de um artigo de Goodlife Zen



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1. Meditar

"Espere", você pode estar pensando, "a meditação é demorada."

Deixe-me esclarecer.

Se você  medita regularmente, provavelmente vai querer dedicar um tempo razoável a isso. Provavelmente já recebe muito com isso e sente que o tempo gasto é um grande investimento.

Mas se você é novo na meditação ou vai apenas começar novamente depois de um hiato, é perfeitamente possível começar com apenas alguns minutos por dia. Na verdade, muitos dizem que é aconselhável. A única ressalva é que para construir o hábito, é melhor escolher uma hora específica do dia e ficar com ela. Isso é fácil de fazer se você juntar a um hábito já existente, como sentar-se na cama de manhã. Ou escovar os dentes ou vestir o pijama à noite.

2 Check-in com você mesmo regularmente. 

Seja curioso sobre o que está acontecendo com o seu corpo, mente e coração. Convide um senso de auto-exploração suave a entrar na sua consciência, e deixe-o expandir naturalmente. Isso não deve ser compulsivo ou forçado, mas espontâneo.

Por exemplo, o que a sua mente sente quando você acorda? Espaçoso e claro, ou já está pensando em tudo o que tem a fazer nesse dia? E como é que difere do seu estado mental por exemplo na hora do almoço ou à noite?

Que palavras você tende a usar em diálogo interno constante da sua mente? O que o deixa triste, frustrado, e realmente feliz?
Quais são os seus gatilhos de stress mais comuns? Onde mantém a tensão no seu corpo? Será que a tensão física se sente diferente quando está chateado ou quando está animado com alguma coisa?

Quais são as formas padrão como reage a outras pessoas?

Não há certo ou errado para nada disso, e é muito importante ser compassivo, em vez de julgar. Você não está procurando maneiras de bater-se, apenas de perceber padrões interessantes. Pense nisso como a coleta de "notas de campo" em si mesmo. . . você pode até mesmo manter um diário, se quiser.

Se você não tiver o hábito de auto-consciência, apenas pratique rápidos check-ins como estes sempre que se lembrar, e com o tempo você vai, naturalmente, fazê-lo mais e mais vezes, sem qualquer esforço extra. Eles podem se tornar uma mina de ouro de informações úteis sobre si mesmo.

3 Escolha uma pequena meta de auto-aperfeiçoamento

Não há necessidade de ser um escravo. A pesquisa mostrou que começando com uma incrivelmente pequena mudança torna-se mais fácil para você ter sucesso, o que leva a uma transformação duradoura ao longo do tempo.
Portanto, escolha algo sobre si mesmo que você gostaria de trabalhar ou algo que não seja muito difícil. Qual é o menor passo que você pode tomar hoje para mover-se para a frente?

Você acha que fica com raiva muitas vezes? Práatique respirar fundo e contar até três antes de dizer qualquer coisa. Você quer ser um melhor amigo? Telefone ao seu melhor amigo esta noite.

Uma questão interessante aqui é se as mudanças da "vida exterior" contam ou não como espirituais. Eu acho que depende de sua motivação.
Tome a aptidão física como exemplo. Se você está simplesmente a tentar parecer uma supermodelo, então provavelmente não. Mas se você ver o seu corpo como um veículo para fazer coisas boas no mundo e quer mantê-lo saudável e forte, então eu diria que sim, que é espiritual.
(...)

Então comece com apenas uma ou duas pequenas metas de auto-aperfeiçoamento, até já não precisar de pensar muito nelas. Então poderá aumentá-las ou escolher outra coisa para trabalhar. Mantenha-o simples, e em breve você vai encontrar a sua confiança e senso de auto-estima.

4. Procure pequenas maneiras de servir os outros. 

Para a maioria das pessoas, o desejo de fazer o bem no mundo é uma forte componente da sua espiritualidade. E o impulso natural é ajudar tantas pessoas quanto possível. Mas você tem que considerar a si mesmo. Não é errado colocar-se em primeiro lugar. Faça o que  está inspirado para e capaz de fazer, e acredite que isso faz uma grande diferença.

Os €5 que pode doar à sua instituição de caridade favorita? Ajudam. O mesmo acontece com um abraço e um ouvido atento para um amigo que está tendo um dia difícil.
Voluntariado para uma noite na "sopa dos pobres"? Mesmo uma refeição quente num estômago faz uma diferença positiva para o proprietário do estômago.
(...)

5 Seja humilde-corajosamente

Muitas pessoas não compreendem a humildade, pensando que significa tomar um banco traseiro para os outros. Mas a verdadeira humildade não é auto-anulação. É ter uma compreensão clara do que você tem para oferecer, sem ficar preso no ego sobre ele.

O ego é uma coisa engraçada. Muitas tradições depreciam-no como algo a ser evitado ou transcendido, mas tem um lado positivo também.

Você realmente precisa de um forte senso de si mesmo, para progredir em qualquer aspecto da vida, incluindo a vida espiritual. Se você pensa de si mesmo como sendo insignificante ou sem importância, ou lhe falta a motivação para lutar pelas coisas, ou você vai pensar nelas como objectivos egoístas e indignos.

(...)

A humildade é uma combinação de reconhecer onde está faltando, saber quando você deve adiar para os outros, e avaliar onde estão seus pontos fortes. Quando você é claro sobre essas coisas e as oferece humildemente, sem vergonha ou encolhendo, todos se beneficiam.

6. Apreciar. 

Por fim, fique atento às coisas, grandes e pequenas, para ser grato ou feliz.

Cultivar apreço mantém o seu foco no positivo. a sua experiência da vida torna-se mais alegre, e isso se transfere para tudo. Que, mais uma vez, beneficia não só você, mas todos.

Então, parar e cheirar as flores, mas não como um cliché. Fazê-lo porque elas realmente cheiram
bem. Saboreie a sua próxima refeição, e sinta-se grato por ela lá estar para ser comida.

Agradeça o apoio de amigos e familiares, e a delicadeza e generosidade de estranhos. Seja feliz com as coisas que você aprende com a experiência.
E aprecie o facto de estar vivo para experimentar as coisas."